“Quando amor dá errado, nada
dá certo”. É o que dizem meus pacientes de psicoterapia, se não em palavras
e clichês, em sintomas e distúrbios. Quando o amor dá errado, nossa alma dá
errado – e nossa mente brinca conosco. Depressão, ansiedade, ataques de pânico,
problemas sexuais, estresse, alcoolismo e dependência de drogas são distúrbios
de nosso diálogo com o amor.
Ao longo dos anos,
enquanto ajudava meus pacientes a lutar com o problema do amor, percebi que
padrões de relacionamento não são simplesmente uma repetição de um
comportamento único e distinto. Trata-se, em grande parte, de uma consequência
do fato de esses padrões românticos terem em comum um antecedente psicológico
que precisamos entender para atingir o amor; mas, para ajuda-lo a começar o
processo de identificação de seus próprios padrões, gostaria de analisar brevemente os mais comuns.
Os padrões que nos levam ao fracasso se
insistirmos em não vê-los como são: fantasia, poesia, conto de fadas, uma
imagem ou realidade passional, mas não a própria realidade. De certa forma,
cada um desses tipos reside confortavelmente como a parte criativa de qualquer
relacionamento amoroso, porém, mais uma vez, cada um também é plenamente capaz
de contaminar nossa mente e de destruir nossa habilidade para formar ou
sustentar relacionamentos íntimos.
O primeiro dos
padrões é o AMOR NARCISITA- É um
começo bastante apropriado, pois, como a sabedoria convencional justamente
supõe, amar a si mesmo é pré-requisito para amar os outros e, nesse sentido,
todo amor começa com o amor por si mesmo. E fato, geralmente buscamos o amor
por causa da maneira como ele faz com que nós nos sintamos- vivos, valorizados
e encantados com a vida, a nossa vida. Portanto, embora um relacionamento
amoroso deva envolver certo grau saudável de narcisismo, no Amor Narcisista
nossa necessidade de nos sentirmos especiais é “desmedida”. Considerando que
para nos apaixonarmos é necessário que idealizemos nosso parceiro para não
ficarmos incomodados demais com sua limitações, no Amor Narcisista o hiato
entre essa idealização e a realidade da outra pessoa é tão amplo que se torna
insustentável, é uma tentativa de regular nossa auto-estima, “quero que o outro
perceba qualidades em mim que eu não consigo ver”.
No 2º padrão, AMOR VIRTUAL – Entramos num
relacionamento com uma separação geográfica intrínseca, como um relacionamento
a distância, intermitente ou on-line, portanto, somos fisicamente impedidos de
ficar junto da outra pessoa regularmente. Livre do peso da realidade da vida
cotidiana, esse tipo de arranjo romântico, em sua forma mais extrema, alimenta
uma fantasia de perfeição sobre a outra pessoa e o relacionamento, mas, assim
que tentamos trazer esse amor”virtual” para o mundo físico, nossa construção
fantástica é estilhaçada, deixando-nos com pontadas de saudades e uma sensação perturbadora
de desconfiança a respeito de nossa capacidade de amar.
No 3º padrão, AMOR DE MÃO
ÚNICA, quanto menos disponível é a outra pessoa, mas desejamos.
Quando estamos apaixonados por alguém que não nos corresponde, dizemos a nós
mesmos que se o outro simplesmente correspondesse ao nosso amor, ficaríamos
muito felizes e satisfeitos, mas a verdade é que, quando esse tipo de amor é
correspondido, muitas vezes perdemos o interesse. , o reverso dessa busca por
pessoas indisponíveis, é que, na verdade, nós que ficamos indisponíveis para as pessoas que nos buscam,
esta visão que é parte integral deste padrão.
No AMOR TRIANGULAR – trazemos outra pessoa,
real ou imaginária, para nosso relacionamento. Por ex: você ama sua cônjuge
como esposa/mãe, mas ama sua amante como parceira sexual, ou com ela consegue
ser diferente, ter uma vida diferente da costumeira, com mais leveza,
espontaneidade. Ou você namora um homem enquanto está secretamente apaixonada
pelo irmão dele. Ou ama seu marido, mas prefere passar todos os fins de semana
com sua mãe. Esse terceiro elemento, a propósito, nem sempre é uma pessoa – pode
ser uma coisa ou uma atividade. Posso estar comprometido com minha namorada mas
passar todos os fins de semana esquiando com meus amigos ou bebendo. Ou posso
amar minha namorada mas preferir passar todo o meu tempo livre na Internet. Na maioria
desses casos, quando a pressão aumenta, é o terceiro elemento que acaba sendo
deixado de lado, mas só depois de prejudicar o relacionamento principal, mas ,
se não tiver consciência do que está acontecendo, não adianta nada só parar com
o terceiro elemento, onde pode até piorar o andamento do relacionamento, pq não
foi uma decisão da própria pessoa, que se sentiu oprimida, coagida.
No AMOR PROIBIDO – somos atraídos pela
sensação de risco e até de perigo criado pelos obstáculos que se interpõem ao relacionamento.
Um professor de ensino médio e uma aluna se apaixonam loucamente. Um mulher
divorciada se apaixona por um amigo de faculdade do fiho. Uma mulher casada se
apaixona por seu instrutor de tênis – ou por seu terapeuta. Embora nessas
situações acreditemos que se simplesmente pudéssemos sobreviver ou remover o
obstáculo proibidor poderíamos realizar nosso amor, na maioria dos casos é
exatamente esse elemento proibido que alimenta a paixão de nosso amor,
portanto, quando este é removido, o amor geralmente morrer de dentro para fora
à medida que um ou ambos os amantes ficam entediados ou distraídos por novas
circunstâncias proibidas.
No AMOR SEXUAL- definido não como amor com
um componente sexual, mas como um componente sexual com amor – um relacionamento
baseado em um desejo sexual e não muito mais do que isso, Pode acontecer de
modo consciente, como no caso em que as duas partes se dedicam à exploração física
sem restrições, ou inconsciente, quando uma ou ambas as partes se iludem
achando que estão apaixonadas, o que é muito comum no caso de homens que, na
verdade, sentem apenas um forte desejo sexual. Em qualquer uma das situações, o
relacionamento desmorona quando um ou ambos os parceiros “se lembram” de que
não são apenas corpos e de que a sua psique ou alma é tão real e tem
necessidades tão fortes quanto seus órgãos sexuais e sensoriais.
Por fim, o AMOR ANDRÓGINO, queremos inconscientemente
que nosso parceiro faça uma operação de troca de sexo emocional. Dizemos que “os
homens são uns grossos” ou que “as mulheres são sensíveis demais”, tentamos
mudar nosso parceiro e desejando que este se pareça mais com uma mulher ou que
ela se pareça mais com um homem – uma receita certa para o desastre. Ou , de
fato, podemos escolher alguém que se pareça mais com nosso sexo. Nesta época de
pós-feminismo, muitos acabam caindo num padrão de namoro ou de relacionamento
no qual a mulher é uma batalhadora agressiva e o homem é um tipo sensível e
emotivo. Quando estes papéis são realmente polarizados, o relacionamento está em perigo, pois, mas cedo ou mais tarde,
o homem começa a fica ressentido com a mulher por ela ser um sargentão
insensível , e a mulher olha com desprezo para o homem porque ele é um capacho
desprezível.
Apesar de todos
nós conhecermos alguém – se não nós mesmos – que esteja nas garras da natureza
repetitiva de um desses padrões, é importante lembrar que, quando não são
extremos, estes são simplesmente
aspectos do amor. E todos, não
apenas estão de certa maneira presentes em nosso relacionamento, mas, mesmo
quando destrutivos, raramente acontecem de forma pura, quer dizer, podemos
mudar de um padrão para outro numa mesma relação, não necessariamente temos uma
único padrão o tempo todo, conforme
nossas carências e necessidades. A nomeação desses padrões de comportamento é
só para facilitar par identificação e avaliar o nosso grau de comportamento, se
estamos no limite, ou excedendo, criando problemas para nos relacionarmos.
Um último
lembrete:” O amor, primeiramente,
envolve dar, e não receber. A pessoa dá
porque tem muito e porque isso faz com que ele se sinta contente e vivo. Este
tipo de doação não diz respeito apenas a fazer ou fornecer coisas para os
outros, mas também diz respeito a dar parte de si mesmo ou compartilhar a
própria vida interior com a outra pessoa.” – Erich Fromm – Em Arte de Amar.
Tudo isso para
dizer que nossa dificuldade em dar,
e, portanto, em superar nossa ambivalência, está inteiramente em nossa cabeça.
No fundo, todos temos capacidades de dar
e, de fato, quando nos apaixonamos pela primeira vez, tudo isso volta sob a
forma de generosidade alegre e incondicional. Mas logo começamos a pensar sobre
as nossas necessidades e perdemos contato com a idéia de não esperar nada em
retorno, isto pq, estamos carentes emocionalmente. Para que consigamos dar
livremente aos outros, precisamos dar primeiramente a nós mesmos. Note a diferença crucial entre dar a si
mesmo e buscar isso nos outros. É como uma filosofia do tipo:” não pergunte
o que os outros podem fazer por você, mas o que você pode fazer por si mesmo”. Investir
em nosso próprio crescimento para que possamos, no final, encontrar a coragem
de aceitarmos a nós mesmos e ao desejo de nos tornarmos mais como realmente
somos, é aqui que a psicoterapia pode ajudar, não é mudar as pessoas, mas
exatamente ao contrário, isto é, ajuda-las a se tornar mais como elas próprias
já são.